Tuesday, June 24, 2008

Poema - Diálogo com o Conde


Em desalinho com as grandes questões tratadas,

o nobre do ouro se evade e se esconde.

Ele não o tal famoso conde,

que seguiu a pé naquela ínfima estrada?


E conseguiu alcançar o mais nobre desafio

de lidar com as questões mais triviais do seu tempo.

Mas, este não é o melhor passatempo

a que eu me proporia assentar.

Pois o levantamento feito naquele tempo

revelou grande deficiência de intelecto

Pois, era terra de abjectos

sem a menor consciência do que é a dor.


Ô obscuridade gentílica!

Façam versos, criem rimas!

Mas, por favor, não me venham com ladainhas

Eu sou osso duro de roer.

Ah... vocês vão ver

que, enquanto a dor superar a arte,

não haverá maior desastre

que me ponha ao chão.

Pois enquanto resta a canção,

há esperança!

Pois não passo de uma criança

pronta para brincar.


Então ela cresce e se transfigura.

Que maldição! Toda a sua figura muda.

Os pêlos crescem, os músculos enrijecem.

A pele muda e a mente desobedece.

Seria aos caprichos instintivos

ou à uma racionalidade maligna?

Que droga de vida é essa a minha

que se propõe a ajudar,

mas, a sofrer as consequências

de duras instâncias,

pois, ser criança

é sofrer, crescer, apanhar.

É lidar com os fracos;

é lidar com o forte.

Pois, justamente aquele que aponta o norte

é o primeiro a apedrejar

e a arquitetar as maldades mais inquietantes.


O grande ego vai caminhando.

A puro trote segue

e cavalgando

sobe morros, sobe serras,

atravessa ruas e entre as veredas

se esgueira,

rasteja e caminha.

E finalmente, olha lá!

Não é a terra de Caminha?

E finalmente ele descobre

que nas terras do oeste,

no hemisfério esquerdo do seu cérebro,

que a racionalidade lhe pregou uma peça!

Não que o coitado não mereça...

mas ego é ego e já basta!


Não é que o ego esconda

o dono do ouro, o conde;

que não é difícil de achar,

basta você olhar

para o rio e sorrir.


Ô nobre Conde, sobre meu povo e minha terra

o que tem a dizer?

-Meu caro... caríssimo amigo.

Desde há muito tempo reflito

o quão tu es digníssimo.

Porém, justiça seja feita

já que não sou de desfeitas

nem de meias palavras!

Por si só, pra mim, a verdade basta

e lhe aconselharei sobre o perigo que te rondas:

Olha de espreita

e perceba

que logo à sua direita se encontra os comuns

que de diversão estão em jejum.

Prontos pra mais uma rodada

de atividades ignóbeis

que alimenta de mais torpe

as suas mentes debilitadas.

À sua esquerda veja os crentes.

Bíblia na mão...

Ó, quão decentes!

Mas não engane

pois, por detrás daquelas aparências

o maior sinal de indecência

pode lhe assaltar.

Pois enquanto não representa um perigo,

seus desatinos se escondem sob suas vestes

e é justamente através de revezes

que nos põe estupefatos,

quase sempre de sobressalto!

Portanto, meu amigo.

Falar sobre sua terra

é falar sobre pessoas e pessoas

são diferentes

apesar de que a essência

seja a mesma

e de que as convenções humanas

sobreponham seus interesses;

ainda sim seu solo sagrado

é profanado com mesquinhagens

instintivas ou não

não passam de maldades

que apenas desgastam

nossa pobre existência.

Por favor meu caro...

às minhas terras venha!

E conheça quão divino

pode ser o comportamento humano

que não precisa de tantos desmandos

para saber se harmonizar.

Não me resta muito a falar sobre seu povo,

já me chega,

estou desgostoso.

E não sou homem de me pôr a par

daquilo que não me é prazeroso.


Pois, meu amigo,

a resposta já foi dada

e não me porei mais a par de nada

que não for de minha alçada.

Enquanto mantivê-lo por perto,

esperto estarei

porque aos seus avisos

sempre me atentarei

e não me deixarei tentar,

pode acreditar,

por um impulso de adoração.


Percebo que posso

aprender muito com a tua pessoa,

que como se fosse a proa de um navio

ao horizonte me guiará

e poderá me mostrar

o que neste mundo há.

Seja maldade, seja mazela,

seja a própria dor

ou a tristeza singela;

que bela me guia,

me orienta para a luz

conduzindo-me ao sol

em direção à santa cruz?

Ohh, por isso não se deduz

a força de minha vocação,

pois, amar de coração

não é o olhar instituído,

construído e consumido

pela mão humana.

Eis o conde,

Ó conde!

Nobreza d´alma

que reflete na água

nosso ego enfaixado.






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