Sunday, November 25, 2007

Texto ainda em elaboração

Como podemos salvar o mundo? Para responder a esta pergunta, precisaríamos questionar também: Como podemos nos salvar? Isto é fácil de ser entendido a partir do momento que o mundo é fruto de nossas expressões que abarcam tanto o sentido cultural quanto o institucional. Esta última padroniza as ações e a primeira atribui um novo olhar ao homem que é exteriorizado em criações artísticas ou modelos comportamentais. Quanto à aparente simplicidade ao deparar-se com pontos demasiadamente complexos, não é minha intenção ater-me ao longo de páginas para discutir conceitos. A priori, os pontos sintéticos supracitados são os alicerces do entendimento do que é colocado como possível resposta para a indagação inicial deste texto.
Milhares são os motivos que emperram uma tentativa altruísta de melhorar nosso grande habitat. O “nosso” torna-se hoje piada. A idéia de que o mundo é dos homens deve ser reformulada para “o mundo é de poucos homens”. Um por cento da população brasileira, possui uma riqueza que corresponde à renda de 50% da população. Lênin considera que a classe empresarial apropriou-se dos meios de produção, nos seus mais diversos sentidos. Possui não somente a força econômica, mas a cultural. Desta forma, a classe empresarial adquire a capacidade de ditar as tendências. À semelhança do que ocorreu na corte de Luis VIII, a classe dirigente do Brasil cria suas próprias maneiras que são parcialmente copiadas pelos estratos sociais inferiores.
Um sistema econômico é uma instituição com vida própria. Criada, a princípio, sem intenção explícita; é a reguladora da conduta humana, que perpassa o nível material e ideal. Com todas as suas peculiaridades, tudo o que é produzido por esse sistema possui uma forma sob medida; pronta pra ser feita e desfeita. E desta forma também é o que se localiza no campo ideal. O modo como o homem vê o mundo, passa a ter um significado próprio. As relações também são feitas sob medida, como se fossem produtos. A aparente ausência de data de validade não tem grande importância, porque as relações tendem a sofrer constantes desgastes. Se por um lado há a concentração de riqueza, mesmo nos despossuídos isto pode ser refletido como uma concentração de instintos. Ao serem desprovidos dos principais bens da sociedade, as pessoas tendem a acumular sentimentos; sejam positivos ou negativos. Isto atravessa os mais diversos campos da relação do homem com a sociedade. A audácia torna-se um dos trunfos daquele que rouba, mesmo sabendo que ansiedade e medo em muitos casos são dominantes. Ninguém nasce com todas as características definidas. Desde o nascimento, o homem sofre modelações. Seja no seio familiar, no da sociedade e naquilo que constrói com suas percepções. O conhecimento adquirido gera novas formas de manifestação que alteram a própria conduta humana por meio de associações. E justamente através do saber, o homem pode melhor coordenar suas ações; tendo ciência de seus impulsos e ampliando o número de soluções para um problema.
A escola é uma instituição conservadora. Reproduz as características econômicas do sistema dominante no modelo de ensino, no comportamento e na visão de mundo dos seus estudantes. Por um lado existe a escola pública e do outro a particular. Na primeira encontramos os peões do tabuleiro de xadrez. A grande massa, que será a mão-de-obra dos interesses daqueles que detém o poderio econômico. Os filhos desta escola irão formar a massa com defasagem na consciência crítica e autônoma em relação aos grandes interesses político-econômicos. Desta forma, a classe empresarial possui um grande trunfo. Com seu poder de financiamento apóia candidatos nos municípios e estados; resguardando-se contra possíveis eventualidades. Uma máquina pública é formada a partir desses interesses. A política perde sua identidade enquanto espaço para representação do povo para assumir os desejos e ambições de um grupo. Mesmo que candidatos que pregam o social cheguem ao poder, não muito poderão fazer contra o cenário que encontram montado. Jogam no terreno do inimigo e muitas vezes ocorre de mudarem de lado. A educação brasileira é um dever “da família e do estado”. O Estado dá a escola, o alimento, mas não fornece as condições psicológicas ou de qualquer outra ordem que não podem ser feitos num formulário. A privação traz problemas próprios: desordem no seio familiar, necessidade de trabalho, falta de material de estudo, infelicidade, desesperança. Infelicidade e desesperança são termos inexistentes para aqueles que se autodenominam doutos da Economia; que com todo seu tecnicismo acabam esquecendo que as pessoas possuem desejos, sonhos e que quando se vêem frustradas, uma série de problemas negativos, e em pouquíssimos casos, positivos, vem à tona. Positivo me refiro quando se é analisado o desejo de continuar lutando, persistindo. Quanto aos problemas negativos, eles podem gerar boa parte das seqüelas sociais. Ao ir à escola pública, o menino carente depara-se com jovens de boa condição financeira que reproduzem em seus comportamentos as tendências ditadas pelos pais daqueles que eles pretendem imitar: os jovens aburguesados. A privação não seria o único problema, caso não existisse todo um aparato de incitação ao consumo. Aqueles que não podem adquirir os produtos do capital são ridicularizados por aqueles que fazem perfeitamente o papel marionetes. O homem é sensível à influência; e o pouco conhecimento junto ao fraco desprego moral e de valores, acaba tornando irresistível para o jovem adentrar o mundo do crime como forma de possuir aquilo que lhe falta enquanto membro de uma sociedade capitalista. Existem bens que não são possíveis para a classe média e baixa. Eles contentam-se com réplicas ou com suas próprias criações e fazem deles o passaporte simbólico para o mundo dos suseranos do capital.
A escola particular é um mundo com muitos submundos. Por um lado se tem escolas pagas para fornecerem um serviço “melhor” à da rede pública. Por outro lado, se tem escolas que são verdadeiros berços aristocráticos. Nelas encontram-se os “filhos dos fidalgos”. Crianças que irão substituir aqueles que detêm o poder e que são as verdadeiras donas da nação, pois, tem sob seu controle, todo o aparato dos meios de produção e comunicação. Este último é indispensável para a manutenção de um status quo, e na divulgação das tendências elitistas com o nome de “bom gosto”. Esta instituição particular irá formar uma série de tecnocratas sem relação direta com o povo, sem estar atentos às necessidades da sociedade. Irão comandar milhares de homens a partir de um laptop no último andar de suas empresas. Tanto na instituição particular quanto na pública, existe um mundo com submundos. Com suas próprias características devem ser analisadas e contextualizadas. E numa perspectiva macro correspondem à antiga idéia do Senhor e Servo, cuja visão aristotélica pressupõe que seus interesses são mútuos e estão intrinsecamente ligados, o que é errôneo afirmar.
A cultura está diretamente ligada às instituições forjadas pelo homem. Uma instituição é, antes de tudo, uma concepção. Um posicionamento acerca de um problema, com a intenção de resolvê-lo ou monitora-lo. Ela consegue criar suas próprias raízes e desta forma ramifica-se numa série de estruturas da mentalidade. A conduta é alterada e o modo de lidar com o meio adquire um novo significado. A cultura tanto pode surgir da instituição quanto ser uma condição para formá-la. A exemplo, o racismo no Brasil do século XIX era institucionalizado, advindo de uma cultura racista, da coisificação do escravo negro. O aparato burocrático do Estado excluía o negro, seja do momento eletivo ou mesmo das melhores oportunidades de trabalho. A igreja é um exemplo de uma instituição que gera uma cultura própria. Não somente a igreja como as religiões num todo. Inicialmente utilizam elementos culturais para uma simbiose de concepções acerca do mundo, gerando um novo olhar e um novo “portar-se”.
A todo instante somos influenciados e influenciamos. Mas apesar dos limites de nossa influência, sempre agimos de acordo com um todo homogêneo. Tal homogeneidade é o sistema capitalista. O conhecimento é uma forma de desgarrar-mos do condicionamento que involuntariamente (ou voluntariamente) sofremos. Deixemos de lado o modelo behaviorista de Skinner com sua posição rígida acerca do condicionamento e adotemos a posição de Norbert Elias do que ele significaria. Mesmo com o conhecimento tendo potencial de transformação sobre os indivíduos; os valores, a moral, os forma. Temos uma grande parte de preconceito enraizado, assim como de elementos reacionários e estes podem se manifestar sob a forma do desânimo, da inércia, da descrença. Na escola, o jovem aprende os princípios do capitalismo. Seu ser é composto por elementos discriminatórios e de preconceito. À medida que cresce sem que essas informações sistêmicas sejam cessadas, acaba por transformar-se num legítimo reacionário.
Uma coisa é certa: independentemente do sistema (capitalista, comunista, anarquista e outras), sempre haverá uma manutenção ideológica através das instituições do sistema vigente. Cabe ao indivíduo uma decisão quando se é analisado o socialismo como uma alternativa: é melhor um sistema em que um indivíduo é incitado à competição, que cria o culto à individualidade, que divide a sociedade em classes, que concentra a riqueza nas mãos de poucos ou um sistema que pretende diminuir os abismos entre as classes com o objetivo de eliminá-las, com a intenção de criar uma democracia racial, com a assistência aos bens mais básicos para a manutenção do indivíduo? As duas irão repassar suas ideologias através de uma série de mecanismos forjados em seu seio. Como são instituições, é compreensível a causa destas ações. Mas alegar que este é o motivo que impede uma possível escolha, porque aparentemente resultariam na mesma coisa, é um tanto insensato ou mesmo talvez esteja imbuído de um elemento reacionário disfarçado.
A idéia de classe no Brasil é diferente do que isto é entendido na Europa, por exemplo. Também é diferente de como isto é entendido na Ásia, ou seja, qualquer que seja a teoria, ela pode encontrar-se de forma diferente, mas sem que perca sua essência. Neste caso, a quintessência sem dúvida é a divisão dos homens numa “meritocracia” baseada no dinheiro. No caso brasileiro, a origem étnica do indivíduo é fator determinante para sua alocação na sociedade através do filtro natural das classes. Há a opinião de que no Neoliberalismo sobressaem-se os mais fortes. Portanto, aqueles que não ascenderam socialmente seriam os grandes fracassados. O sistema impõe sérias dificuldades àqueles que ocupam os estratos sociais mais baixos. Há uma manutenção da elite, com o mínimo possível de subida e descida entre seus membros nas classes sociais. Lênin afirma que a força trabalhadora tem se unido, formando um bloco com o poder de pressionar o capitalista, mas tal união possui uma consciência reacionária; não tende à modificação, mas somente a uma satisfação de classe. Dentre as supostas três classes existentes, pelo menos duas delas são responsáveis pelas grandes decisões do país e pela manutenção do atual estado de coisas. Sobre isso, nem irei discorrer sobre a influência da classe alta. Na classe média, a chamada classe média alta equivale à burguesia das cortes francesas do século XVII. Época em que a burguesia tendia a aspirar à posição de nobreza, fazendo todo o possível para copiar todo seu aparato simbólico. Desta forma, a classe média alta vê-se sempre como possível classe a atingir a classe alta e obter, simbolicamente, o grande prestígio social que seria realçado de forma sistemática pelos meios de comunicação. Marx provavelmente não esperaria por uma situação aparentemente sem importância, mas que possui grande influência neste prestígio fornecido pelos meios de comunicação. Tanto no Brasil como nos outros países, a classe alta é tratada como celebridade. Seu padrão é colocado como o ponto máximo a ser atingido por qualquer indivíduo. Tornar um membro da classe alta numa estrela de programa, comerciais ou algo envolvendo meios de comunicação é muito fácil, quando considerado que eles mantêm relação intrínseca ou mesmo são donos destes meios. O fascínio exercido sobre a grande gama de despossuídos é imensurável. O processo de acomodação dá-se por meio da fantasia. A televisão aliena o povo através de um mundo fantástico que a todo o momento é idealizado pelos telespectadores. Assim, se fecham em suas casas e não se atentam às mudanças que podem ser feitas com seu próprio esforço. Esquecem que suspirar por uma condição tida como “superior” é ser a favor da situação na qual se encontra. A imprensa das celebridades tornou-se um grande e poderoso foco reacionário contra a qual a luta atual pela eliminação das classes torna-se muito árdua. A influência exercida vem desde a infância. A criança vê nos filmes que ser rico é o objetivo da vida de quem se preza. Era comum nas décadas de 60 e 70 o uso de cigarros nos filmes através das personagens. Isto criou uma geração de viciados influenciados por tais maneiras. Estas colocações servem para demonstrar quão poderoso é a influência destes meios. A todo instante o sistema cria novas formas que revigoram sua luta reacionária, que se dá em nível de consciência e mesmo de inconsciência. A luta de classes não deve se dar somente no nível das lutas sociais. Com a alienação sofrida por grande parte da sociedade, esta luta deve ocorrer no nível da consciência. É necessário acordar aqueles que sonham acordado. Tanto sonham que acabam deixando a hora em que as coisas poderiam ser feitas. Mas a conscientização e o senso altruísta de levar até eles informações devidas sobre seu papel no sistema, serão vitais para um sentimento de indignação, de mudança, de revolução.

Romance ainda em elaboração.

Poderia ter sido uma linda história. Assim como os contos felizes, abro-me inteiramente às disposições otimistas de nossas pessoas. O mal é uma característica humana e ela está carregada de outros sentimentos. Desta forma um arco-íris de sinuosidades repele-se no nosso eu. Isto se exterioriza, o eu torna-se nós e tornamo-nos maus.
Pedro não era mau. Era um bom rapaz. Proporcionalmente seu alto porte não condizia com seus defeitos. Alguns poderiam alegar perfeição. Era sólido nos seus relacionamentos, firme nas suas decisões. O mundo era seu e tinha tudo à disposição. Quis a vida torna-lo uma espécie de Franklin Roosevelt e faze-lo atender aos pobres. Grande coração!
Pedro nasceu numa comunidade tranqüila. De tão calma alguns reclamariam da vida extremamente pacata. Porém, a cidade estava rumo ao desenvolvimento. Aos 12 anos, sem entender, ouve as pessoas falando sobre as novas oportunidades que teriam.
- Três fábricas este ano! Vou chamar o Toni pra levar seu curriculum – dizia Dona Flora às suas companheiras de solidão. Apesar de ter cinqüenta anos aparentava uns setenta. Sua utilidade já não servia a grandes propósitos e renegara-se à aposentadoria.
Pedro não nasceu há longo tempo, é quase nosso contemporâneo. Sua pouca idade inocentava-lhe o brilho nos olhos. – Fábrica! Fábrica! Falava pra si contente. - Perguntava-lhe o motivo e não poderíamos esperar por análises sociológicas. Rápido no gatilho dizia sempre - Progresso!
Talvez a palavra estivesse muito em voga. Ou em voga estariam aqueles que abusavam tanto desta palavra. Até nossos convivas consideram a vinda de fábricas um progresso. Confesso que não deixa de ser, mas existe seu limite. É preciso avançar sem que precisemos retroceder em algumas áreas. Infelizmente a cidade de nosso anti-herói estava como um filhote de jacaré. Um grande predador, mas que passa por situações as mais adversas durante suas primeiras fases de vida.
Sua infância foi marcada pela monotonia. Muitos consideram a vida monótona vizinha ao tédio. É inata ao ser humano a capacidade de querer ver-se sempre em apuros e de precisar do perigo como uma forma de dar sentido ou valorizar sua vida. Claro, a maioria não pensa desta forma, é algo instintivo. Pedro não precisa de adrenalina. Ele consegue manter a calma de um monge e respeita seus hábitos. Talvez isto seja um traço de conformismo, mas não era isto que iria diminuir a força de seu caráter.
Sabia disciplinar-se. Freqüentava o colégio pela manhã e à tarde estudava por conta própria. Nunca precisou de reforço escolar. Conseguia um tempo entre o final da tarde e início da noite para jogar futebol com seus amigos. Falta mencionar que era um bom cantor. Às noites apreciava a solidão e cantava para as estrelas. Sentia poder olhar além no espaço e observar quasares a anos-luz.
Não era tímido, apenas não sentia necessidade de beijar várias meninas de sua idade para provar sua masculinidade. Atualmente nossas crianças brincam de beijar, outras vão além e brincam de médico.
Certa vez Pedro, já aos 15 anos, passeava por sua rua - que se estendia de sua casa até sua escola, morava a menos de 300 metros desta; havia uma praça ao lado que ficava na esquina de uma rua com alguns bares e repleta de bêbados – quando viu um conhecido de sua idade ser ameaçado por outros garotos. Sentiu raiva pela covardia e partiu para a briga. No fim levou a pior, mas ganhou um grande amigo: Paulo.
Paulo, 14 anos, é um garoto de estatura média, tendo sete centímetros a menos que Pedro seus 1.65 eram realçados com um grande espírito e aparência saudável. Filho de pai branco e mãe mulata, traços caucasianos prevaleceram. Sua enorme espontaneidade surpreende para a sua pouca idade. De boa fala, argumenta sobre todo tipo de assunto e parecia ter a eloqüência de Cícero. Seu caráter era duvidoso, talvez eu não esteja dispondo de muitas informações sobre isto. Observei, apenas, pessoas comentando sobre seu temperamento, que variava da transcendental calmaria budista à agressividade néscia. Quando acuado pelos agressores eu não poderia descrever perfeitamente seu estado, mas parecia indiferente aos evidentes socos e olho roxo.
Desde então a infância dos dois jovens resumiu-se a passeios pela rua dos bêbados e às rotinas. Algo que virou hábito foi conversar sobre o futuro da cidade com a vinda dessas fábricas. Pareciam ser muito talentosos na arte da falácia.
Jean Jacque Rousseau afirmou que um homem seria fruto do meio. Poderíamos questionar a legitimidade desta idéia, porém, disposições materiais e bom ambiente familiar não são garantias de bom caráter. O homem tende a ser mau e isso aparenta ser uma característica de nascimento, algo da formação do cérebro. Pedro e Paulo possuíam as disposições materiais e bom ambiente familiar. Mas entre os dois poderíamos observar a existência de predisposições ideológicas. Suas vidas poderiam ser trocadas e ainda sim notaríamos que não foram exatamente as duas condições já colocadas que seriam a causa de certos pensamentos. Pedro, apesar de ser um bom sujeito, transparecia certas ambições. Quanto a esta última “qualidade”, todos os homens a possuem e é uma forma, na maior parte dos casos, de dar sentido às suas existências. Paulo raramente executava seu altruísmo e quando o fazia embebido estava de certo prazer; algo como beber quando se está com muita sede ou comer quando se está faminto.
Onde reside a perfeição? Alguns dizem que ela está no amor e outros falam que está na verdadeira amizade. Pode haver amor na amizade, mas perfeição é algo que está longe do ser humano. A amizade de Pedro e Paulo era sólida e transmutava tristezas em felicidades. Os gestos mais inocentes, os aparentes detalhes insignificantes representavam uma força maior nessa amizade que beirava a perfeição. Alguns poderiam acreditar que ali havia o dedo do destino. Prefiro apontar o dedo da casualidade e das conveniências que permitiram o estreitamento dos laços entre a vítima e o anti-herói. Por um lado havia o sentimento protetor e por outro o de gratidão. Inicialmente formaram-se desta forma, porém, ao longo do tempo, foram transmutados e tornaram-se novos sentimentos, duros como a rocha.
Não sou onisciente, portanto, não poderia descrever todos os fatos que cercaram a vida dos dois jovens. Mas considero que seria de grande importância enumerar uma série de fatores que resultaram num futuro não muito esperado a partir do que foi colocado aqui como presente. É preciso ressaltar que, como mero observador apenas, eu interpretei as situações à minha maneira. O senhor (a) pode ter sua própria análise acerca dos dois companheiros e jamais diria que está errado (a). Tenho a oportunidade de aqui mostrar como acompanhei com interesse essa história e emitir o meu jugo, que por sinal pode até estar equivocado. Não pretendo entrar no mérito de qualquer questão com os senhores.


As heranças culturais da pacata cidade impregnaram valores que não são bem conhecidos dos povos das metrópoles. Não que estes últimos sejam desprovidos deles, mas o “progresso” traz retrocessos no campo da moralidade. Os homens constroem conceitos e a partir deles vê o mundo. Eles acabam por gerar modos de se relacionar com a natureza e com os outros homens. Chega um momento no qual o suposto nível de “civilidade” – que seria o ponto máximo de distanciamento dos animais – começa a decair – supostamente decai -, e pouco a pouco o verdadeiro homem assemelhando-se vai a um animal, fazendo jus ao análogo “do pó veio e ao pó voltará”. O homem possui seu corpo privado e o oculta do público, e para este possui o corpo público que é apropriado pela sociedade em suas mais diversas formas como um quadro para exposição. Este corpo equivale ao pensamento ou a suas manifestações entre seus semelhantes. Algumas vezes existe o que pensa e o que quer que os outros pensem. Desta maneira, nunca podemos afirmar uma autencidade. Talvez nossos personagens sejam um tanto ilegítimos neste aspecto. O mesmo poderia afirmar do caro Rodia. Somos aquele que pensamos ou simplesmente o que vemos como reflexo no espelho?

Poema - Anjo


Anjo da manhã, da tarde e da noite,
que congela e ao mesmo tempo aquece;
perto de ti o chão estremece;
em sonhos de ti há o meu pernoite.

E pernoitando atravesso mil noites
e tais noites não se acabam com as horas,
porque pra mim as horas se tornam mortas
e em ti resumo o meu infinito.

Feliz por te imaginar.
Feliz por contigo estar.
Contente a ponto de viver a saltar.
Contente por sentir o seu ar...

Entretanto a vida põe adversidades.
Superar-me, tento a cada nova dificuldade.
Se eu puder, reclamarei ao mundo que sou o mais forte,
porque encontro em você o meu mais formoso norte.

E norteando minha vida cavalgo, ando, piloto.
Faço o possível e o impossível.
Não conseguir nada com tua inspiração seria opróbrio.
Portanto, fraco com ti é inadmissível!

Es tu aquela quem me arranca o suspiro
e que me torna o mais iluminado espírito.
Eis o momento para a verdade ser dita:
Amo-te! Minha querida... musa juíza!!!