Tuesday, June 14, 2005

O homem e as armas

Paus e pedras. Estes foram as primeiras formas de se matar, mas não por disputas territoriais, e sim pelo alimento. O homem elevou-se na selva, sua habilidade especial fez com que se distinguisse dos outros animais, em pouco tempo se tornaria o soberano da selva e posteriormente do mundo. Suas conquistas mais significativas haviam sido o sedentarismo, até então um luxo. Não habituados com o meio hostil, constantemente se mudavam à procura de alimentos e os animais selvagens o expulsavam, antevendo o seu futuro. Pau para o fogo, para se defender e para matar. Pedra para triturar alimentos, quebrar ossos e como ferramenta da morte também. Em pouco tempo, os tocos virariam lanças e os pedregulhos se tornariam parte de utensílios eficazes tanto na caça quanto na guerra. Surgiram as primeiras formas de conquistas. Era necessário a tomada da terra de outros povos para seu próprio uso. A linguagem da força manifestou-se pela primeira vez de maneira evidente. Homens começaram a se matar, as primeiras terras foram conquistadas, se formaram as primeiras milícias; o homem organizava primevamente seu arsenal militar. Novas formas para matar foram surgindo, assim como sua utilidade no campo, era preciso a defesa dos territórios, barricadas foram criadas, posteriormente muros com pedras e consequentemente fortificações praticamente inexpugnaveis. O tempo, a guerra e as crenças evoluíram, assim como a maneira de viver. Deixamos a selva para conquistar o mundo, agora éramos donos do além mar e até o horizonte nos pertencia. Besteiros eram capazes de acertar alvos à muitos metros, as sua flechas eram capazes de atravessar armaduras e causar a morte em instantes. Catapultas tornaram o que antes era considerado inexpugnavel como sendo apenas questão de tempo, os massacres se tornaram cotidianos da guerra, o sangue molhava a terra e fazia crescer árvores de esperança, mesmo quando tudo parecia estar perdido. Em nome de crenças, genocídios foram cometidos e a morte passou a ser uma especialização. Com o advento da pólvora,os assassinatos se tornaram mais rápidos e eficazes, até evoluírem ao ponto de poderem matar milhares de uma vez só(Hiroshima e Nagasaki). Agora o homem tem "lanças" que disparam centenas de rajadas de fogo por minuto, e que é capaz de mudar drasticamente um território político apenas com o apertar de um botão, que guia a explosão da morte através do céu. A morte não é mais tão cruel para quem mata quando não se vê os rostos das vítimas. É como se não pudessemos sofrer por alguém que nunca vimos, mas que sabemos que existia e que sem podermos lamentar se foi. Ao menos no passado, um homem poderia sentir remorsos ao enfiar sua espada nas entranhas do seu oponente, sentindo sua agonia, seu medo e sua dor. Esse remorso diminui ao ponto de não restar nenhum vínculo entre humanos combatentes. A força da superioridade tecnológica é o que prevalece enquanto a raça humana padece. Mas há de chegar o dia em que os seres humanos deixarão suas diferenças de lado e se unirão, assim como fizeram imensos povos ao confrontar suas crenças, em torno de um objetivo comum. Talvez seja pra reconstruir o mundo depois de um grande desastre militar, ou talvez por desastres ambientais, ou por tragédias vindas de algum lugar remoto do espaço. Mas o que falta mesmo no ser humano, é perspicácia para entender que o que falta mesmo no mundo é compreensão e abdicação de valores egoístas.

Friday, June 03, 2005

A dor que faz a arte





Se versos lindos de um poema triste
refletissem com eficácia toda a minha dor,
eu faria de um belo poema
um instrumento masoquista para causar horror.

Não é a minha intenção repudiar os poemas
e todos os versos que refletem pudor,
mas é de meu jugo, e eu digo apenas...
Quão espantosa é a minha dor.

Gostaria de ter o céu como meu cúmplice,
talvez, um aliado para sofrer comigo.
Mas tal prece talvez, digo, não se cumpre.
A minha dor é agora, meu pior castigo.

Quero agora tornar explícito
quais foram as razões de tal castigo.
Talvez amar demais fosse proibido
e não ser amado fosse o motivo.

A dor de não ser correspondido corrói uma alma.
Destrói seus sonhos e suas aspirações.
Esse foi o veredicto dos céus:
Morrerei no leito das imaginações.