Sunday, June 25, 2006

Poema - Instinto e Sentimento


Diga-me, por favor, o que é mais belo:
O amor ao corpo ou o amor à essência?
Dizes tu que a segunda é consequência
do amor carnal, instinto animalesco.

Sou carne e osso prontos a apodrecer.
Você é um inseto prestes a padecer.
Somos vermes incapazes de ver
toda a ação que causa um efeito de dor.

As futilidades que uma mente produz.
Futilidades quais? Sua arrogância o conduz
para o beco das mil solidões, palavra arcabuz
que irá flechar um dia tua pobre prepotência.

Somos vermes, já disse, isto está dito!
Não faço disso para todos um veredicto.
É uma opinião minha, sugestão decrépita
que faz da natureza uma entidade velha.

Ame o sangue, ame as secreções, ame o odor.
Ame a carne, ame o osso, ame o suor.
Ame as vísceras, ame o podre, ame a dor.
Ama o amor? Ama o valor? Ama o pudor?

Os vermes que comem almas sensabor,
lambuzam-se num mar infinito de calor.
Altas temperaturas do falso moralismo;
da falta de vergonha para falsas virtudes!

Realmente você cairia aos prantos,
se da cabeça cabisbaixa tirasse os panos?
Estes não conseguem revestir a paixão
que dos tristes pensamentos encontra sua consolação.

Você cultua o corpo assim como as formas.
Quem se importa hoje com o conteúdo da obra?
É o instinto que vai fazendo o homem moderno.
É o pensamento que institui o culto a um sentimento terno.

Termina assim todo o oceano de justificativas.
Acabam-se, portanto, todas as prerrogativas.
Mais nada importa para as escolhas: pensamento/sentimento.
Sentimento/pensamento... e o instinto vai regendo.